domingo, 13 de março de 2011

Os filmes e a tal da "Vida"

Nos comentários e críticas cinematográficas, existe um termo que pipoca a rodo: vida. Eu entendo que ele pipoca a rodo e sem muito critério. Uma facilidade calcada em um termo nobre que protege seu eventual emissor de ataques, dada a "alta nobreza" do termo.

Ao falar de um filme, o que seria o termo "vida", o que seria isso??? nunca entendi o uso dessa palavra em cinema, uma vez que o objeto filme, por si só, já é morto, pois é fotografia.

No fundo, o termo "vida", ou melhor, a conotação positiva e nobre que este termo assume nos dias de hoje, simboliza também o triunfo do "desejo de realismo" no cinema. "Tudo que seja o mais próximo possível do real tem que estar ígualmente o mais perto possível da vida". Se for assim, ou todos os filmes têm vida ou nenhum o tem, depende apenas do fato de aceitarmos o tal do "realismo" como algo dado ou não, como algo natural ou artificial, e não como mais uma opção estética entre outras. Não é de estética que se fala, mas de algo anterior, de uma concepção sobre a função da arte, de uma idéia de que o cinema pode e deve ser uma ilusão perfeita de nós: necessidade de reflexo (embalsamento, mumificação, pinturas renascentistas).

Lembremos que a câmera de cinema é objeto renascentista por excelência (perspectiva monocular no retângulo, simetria e equilíbrio). Temos de lembrar também de qual classe social o renascentismo deriva, e em qual classe social hoje ela se perpetua. À tal classe (que além de social é principalmente mental) interessa que os filmes, por trazerem à luz alguma vida que não se acha fora deles, funcionem como compensadores da vida "real". Daí o grande efeito (nem sempre intencional por parte do emissor, claro) do uso do termo "vida": a valorização de um cinema redentor, que não deixa de ser, em suma, um cinema anestésico.

Um comentário:

  1. ai como vc fala dificil, eu sempre tenho de ler duas vezes hehehe :) mas eu acho que tudo depende do ponto de vista :)

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