sábado, 26 de janeiro de 2013

Projetos

             É ridículo falar em "projetos", pois eles não são realidade e correm sempre altíssimo risco de miarem. O fato é que há um ano tenho trabalhado um pouco mais seriamente em pelo menos 3 roteiros, a maioria na verdade servindo como um exercício de auto conhecimento.

- A Esperança, sobre o japonês no Brasil
- A Musa do Pintor, uma espécie de continuação do Danças
- Lígia (co-escrita com o mentor da idéia, Peter)
- Um cara com atraso mental, sem título ainda porque ainda sem substância, sem essência.

O segundo e o quarto são duas versões da mesma história, então se um rolar o outro morre. Vai depender das circunstâncias se um desses quatro, pelo menos, vai ser feito. Se aparecer outra coisa mais pronta engaveto tudo sem dó. Por enquanto não estou satisfeito com nenhum, não sou bom roteirista, e pra fazer alguma parceria eu sei que tenho que ter, no mínimo, um primeiro tratamento consistente. Mas sei que quando a hora chegar o negócio me domina como uma febre e eu não vou conseguir nem ter o direito de escapar.  

Da violência não física

              Em virtude da minha enorme ignorância em relação à cultura japonesa, eu, já faz um tempo, tenho me disposto a estudá-la um pouco. As obras mais conhecidas e acessíveis geralmente versam sobre temas como os "corações sujos" da época da segunda guerra ou sobre o magnífico espírito de luta dos primeiros imigrantes. Algumas poucas são mais corajosas e tratam de temas como o "Perigo amarelo", a cultura escravocrata dos grandes donos de terra paulistas, a xenofobia varguista, enfim, são obras (ou estudos) que buscam compreender o conflito étnico (RESIDUAL, TRANSFORMADO E ATUANTE ATÉ HOJE). Infelizmente 90% dessas obras terminam mais ou menos assim "mas hoje tudo isso foi superado...". Decepção enorme quando encontro coisas como "hoje as relações entre Brasil e Japão são das mais saudáveis, uma vez que os japoneses estão intressados no biodísel brazuca enquanto os brasileiros são fascinados pela tecnologia de ponta japonesa".

            Existem poucas obras que busquem os EFEITOS de todo esse passado conflituoso. É preciso muita perspicácia para ser capaz de enxergar as novas roupas de velhos problemas. Valoriza-se demais o passado como uma espécie de museu nobre para a boa consciência em detrimento do presente, que é aonde este passado está instalado subterraneamente, agindo sem cessar, MATERIALIZANDO-SE.

           Exemplo a ser observado (mas jamais seguido) é uma parte da obra da Adriana Varejão, que busca condensar em suas obras o aspecto violento e irreparável da colonização portuguesa no Brasil. Seus azulejos de cozinha que sangram causam uma forte impressão.    

           A violência não física está na maior parte das vezes camuflada aos nossos olhos cegos. Que tais tentativas de quebrar o tabu sejam por vezes encaradas  como um ato cínico é um problema falso - pois ninguém sabe o que é o cinismo de fato.

          Um grande perigo: se assemelhar com a condescendência de alguns movimentos de arte dedicados às etnias marginalizadas. São eles alguns movimentos de cinema negro e a maior parte de filmes sobre deficiência. São teses ilustradas, intelectualmente justificadas e cheias de boas intenções. São nulos.

          É necessário deixar de lado noções hipócritas contemporâneas como "tolerância" e "integração". É necessário, por ora, esquecer a História (enquanto disciplina acadêmica factual). Sociologia então, que passe bem longe. Tchau Darwin e Zizek, quer dizer, para este segundo, um até logo. Ironia e sátira - esta última um recurso dos mais graciosos - por enquanto não têm lugar garantido, pois a dureza e o tom seco chegaram primeiro. Agora é hora de pensar a imigração japonesa com um pouco mais de filosofia, um pouco mais de arte. Integrar a razão com o sentimento, afiar os olhos para ver o passado no presente. Quebrar o tempo linear. Invocar todos os tempos em um só momento, em um só instante materializado para sempre em um frame.